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Novas profissões criativas: Engenheiro da Imaginação

Talvez você já deva ter ouvido falar que muitas profissões deixarão de existir, enquanto outras surgirão ou, no mínimo, haverá uma repaginada em determinadas profissões que vão passar a utilizar diferentes tecnologias ou o modo operandis será de outro jeito. O fato é: as profissões estão em constante mudança – e de forma rápida. Claro que o tempo desse movimento varia de acordo com o contexto político, cultura, situação econômica e educação de cada país.

Como no Portal IH!CRIEI o foco é falar sobre a Economia Criativa e a Criatividade do indivíduo, vamos trazer as novidades e mudanças no trabalho exatamente em áreas que tem como ativo principal a criatividade.

Hoje você vai conhecer o profissional Imagineer – uma junção de imagine e engineer, com tradução livre seria algo como o “Engenheiro da Imaginação”.

Até o momento, há apenas 4 profissionais no Brasil com esse título e formação, segundo o brasileiro Itamar Olímpio. Ele foi um dos palestrantes do palco de Criatividade, na última Campus Party 2019, que aconteceu em São Paulo. Olímpio estudou um curso chamado Engenharia da Imaginação, e disse que fez um investimento de 10 mil euros na sua formação. “Somos treinados para ajudar empresas a co-criar novos produtos, novos serviços, novas experiências, usando o imaginário coletivo”, inicia a explicação.

Foto: Patricia Bernal

Mas, afinal, o que faz, onde trabalha e o que é Engenheiro da Imaginação?

De uma forma bem resumida é um profissional que trabalha como um facilitador criativo, que possui uma formação com mais de 20 metodologias diferentes que tem como objetivo trazer o que há de melhor nas ideias dos colaboradores de determinada empresa ou grupo. Seja para resolver problemas, criar uma nova mentalidade de inovação entre os colaboradores ou desenvolver novos produtos e serviços. “Às vezes temos que improvisar, e “criar” algo novo quando vemos que as pessoas não estão conseguindo se engajar, entender ou se expressar para resolver aquele problema”, explica. Essa também é uma das razões pela qual a profissão envolve a criatividade: tanto por aplicar diferentes metodologias criativas quanto outras que vão sendo criadas on time. Além, é claro, do constante improviso e da aplicação de novas soluções para qualquer tipo de problema.

Todo esse conjunto de habilidades resultou em uma metodologia chamada Imagineering cujo objetivo é descobrir a convergência entre o que o consumidor quer com o que as empresas oferecem, além de entender e melhorar o relacionamento entre eles. O grande diferencial é que a espinha da metodologia é fazer uma co-criação – entre o Imagineer, os colaboradores e os próprios clientes. “A co-criação é uma metodologia que defende a criação de forma coletiva. É diferente de customização (como por exemplo você ir comprar um carro na internet e escolher a cor dele, ou montar seu sanduíche no Subway). Um exemplo de co-criação seria, por exemplo, na Campus Party 2020, vocês serem convidados para criar os conteúdos, onde vai ser o evento, a estrutura, desde o começo”, exemplifica.

Qual seria a diferença de um consultor para um engenheiro da imaginação?

O Imagineer cria a solução de dentro pra fora. Por exemplo, um consultor tradicional costuma fazer entrevistas, conversa com a equipe, faz um diagnóstico e depois traz uma solução pronta depois de um tempo – geralmente um relatório ou um diagnóstico de toda a problemática e algumas soluções.

Já o Engenheiro da Imaginação (Imagineer) ajuda junto com as pessoas da empresa a pensar em como solucionar todos os problemas, co-criando com quem trabalha lá, como se ele fosse parte da equipe da empresa, mas trazendo um olhar de fora e trabalhando juntos. “Os engenheiros da imaginação tem uma visão muito mais pragmática, menos voltada para o lado pensativo na hora de resolver uma situação e foca mais na execução”, explica. Nada de relatórios para as equipes aplicarem. A ideia é fazer a mudança em tempo real e resolver mesmo todos os problemas.

Outra forma de resolução de problemas é propor ações em que o consumidor de determinado produto ou serviço também faça parte dessa co-criação.

“A inovação funciona muito bem se você tem um método”, Itamar Olímpio

E como os Engenheiros da Imaginação trabalham na prática?

“Primeiramente, somos treinados a usar os recursos que a empresa já tem, assim como usamos o potencial e imaginário coletivo interno da organização. Tentamos de forma sustentável – sem aumentar custos – usar o que a empresa disponibiliza para que a solução seja adaptável e não custe milhões e milhões de reais”, explica Olímpio.

O Engenheiro da Imaginação também trabalha em projetos, por exemplo, de cultura de inovação – que é implementar o DNA da inovação em uma empresa tradicional ou que desconhece esse tipo de cultura empresarial na prática. “A cultura deve ser pensada desde o café da manhã, almoço e janta. Se a empresa não tem uma cultura bem estruturada, qualquer projeto que for fazer pensando em inovar, se não estiver preparada, tem grandes chances de não dar certo. E o método Imagineer ajuda essas empresas a se preparar para receber esse tipo de projeto inovador, em especial no campo da tecnologia”, conta.

Outra coisa que os Engenheiros da Imaginação fazem é estruturar novos modelos de negócios, como por exemplo, ajudar a manter a empresa funcionando bem nos próximos 10 anos, assim como enxergar novas maneiras de ganhar dinheiro no futuro, troca ou inovação de produtos – no caso daqueles que tem grandes chances de ficar obsoleto, e até na área de design organizacional, onde você muda o funcionamento que a empresa trabalha para algo mais eficiente, moderno e com os recursos e mentalidade das empresas do futuro.

“Somos treinados para causar transformações”, enfatiza Olímpio. E não importa se você é um empreendedor ou uma multinacional, os Engenheiros da Imaginação trabalham com todo tipo de negócio.

Abaixo, algumas perguntas curiosas do público sobre essa nova profissão respondidas por Itamar Olímpio durante a Campus Party 2019.

P: Como você foi parar na Holanda?

R: Fui pra fora do país, pois sempre sonhei em estudar no exterior e fazer um mestrado. Comecei a trabalhar e pesquisar bolsa de estudos na Europa, e aí eu consegui na Holanda. Encontrei por acaso o curso Imagineering lá.


P: Como o Engenheiro da Imaginação contribui em áreas que o profissional não tem experiência?

R: O segredo para trabalhar com áreas que não temos experiência é a metodologia para fazer as pessoas conversarem, poderem criar juntas dentro do grupo da empresa ou organização. Por isso, não há barreiras.

P: Qual foi seu investimento nesse curso? Quanto é uma média que um consultor Imagineer ganha?

R: Hoje custa em torno de 10 mil euros o investimento.  O mínimo de pagamento por hora em torno de R$250.

P: Vocês testam várias metodologias para ver o que funciona, já que cada pessoa é diferente? Como é trabalhar com grupos diferentes?

R: As organizações e pessoas são diferentes, por isso às vezes criamos metodologias de laboratórios que achamos que vão funcionar e no meio do laboratório vemos que não está funcionando, então costumamos mudar bastante sim. Existem vários casos que temos que adaptar o que criamos para aquele laboratório.

P: Como você enxerga o trabalho do Imagineer no mercado brasileiro?

R: Está mais fácil agora, levamos dois anos pra se fazer entender aqui o que é e como um Imagineer trabalha. Trouxemos a metodologia da Holanda, mas ela não funcionou 100%, por isso nós adaptamos a metodologia deles pra cá. É um trabalho de longo prazo, os países da Europa estão mais acostumados e preocupados com a inovação, aqui ainda não chegamos nesse ponto, mas estamos no caminho.


P: Qual o nome do lugar onde fez o curso e quanto tempo demora o curso?

R: Breda University e o mestrado é de um ano. Hoje eu trabalho na ESEG -Escola de Engye Gestão, em São Paulo, dando aula de Engenharia da Inovação, no curso Engenharia de Produção.

P: Minha empresa tem uma cultura muito ruim e está tentando fazer essa criação de uma cultura nova, mas as pessoas estão muito desestimuladas. O que fazer? Você costuma voltar depois de um tempo nas empresas que você trabalhou pra ver como está andando o resultado?

R: É difícil pois estamos lidando com pessoas, mas eu daria a dica de estudar atividades e ferramentas de colaboração. Incentivar a colaboração. Sim, costumamos voltar nas empresas pra ver como está funcionando, tentando monitorar o que acontece com as organizações com um mínimo de 6 meses.

P: Existe curso similar no Brasil ou em outra área?

R: Não, só na Holanda. Nós ainda estamos muito no começo aqui no Brasil.

E aí, se interessou? Para quem quiser acompanhar o trabalho de Itamar Olímpio e saber mais informações da profissão, pode contatá-lo pelo itamar@co-viva.com ou o Whatsapp +55 11 9 58532652.

Arte da capa: Daniela Ramírez